terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Aranha no meu céu


"É uma voz quase sussurrada, e ainda assim completamente audível. As palavras, elaboradas, parecem sair com a naturalidade com que a água sai de uma nuvem pesada." E nessa voz sussurrante me perco em sonhos e fantasias. Essa voz rompe a distância, e em meu ouvido é como se o calor de seu hálito penetrasse a minha pele. Quando ele fala é como se nada de ruim pudesse acontecer. Sua voz constrói uma teia que me prende num casulo de desejo e anseio: voz aranha a cobrir de estrelas o meu céu que por demais se tinha nublado. O tempo parece parar e o arrepio que percorre a minha superfície parece ser infindável. Imploro que não se cale: "Please, repeat this word..". E ele somente diz: "now". E só desejo então poder dizer: Now, I m yours!


segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

4 am




















Respiro fundo e me ponho de novo de pé. A vida segue seu curso natural e tudo passa por mim numa velocidade alucinante. Mas é lenta a metamorfose que modifica dia-a-dia o meu estar no mundo. A visão de tudo o que já não está mais entre nós é apenas um pálido retrato no fundo da gaveta. Respiro e inspiro, em mim, quimeras de um futuro não muito distante, quando novamente estarei pronta para recomeçar.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Sob o sorriso do gato de Alice


No fim de tudo, veio a chuva, constante e tormentosa, escorregando entre ruas e vielas, recolhendo e juntando os cacos e restos da imensidão.

No fim de tudo, o sol se pôs costumeiramente e o vento gélido percorreu as espinhas dos caminhos devastados, causando arrepios finos na surpefície lamacenta deixada pela chuva.

No fim de tudo, o silêncio da nossa ausência ecoou retumbante por entre as ruinas do que outrora fora a nossa casa, nosso quarto, nossa cama.

No fim de tudo, não houve lamentos, só o calar-se perpétuo e perplexo dos incontáveis desejos e motivos jamais concretizados.

E, no fim de tudo, sobre nossos corpos decaídos, pairou o sorriso do gato de Alice.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Fernando Pessoa


"Eu amo tudo o que foi,
Tudo o que já não é,
A dor que já me não dói,
A antiga e errônea fé,
O ontem que dor deixou,
O que deixou alegria
Só porque foi, e voou
E hoje é já outro dia."



sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Ventos cambiantes


O olhar percorre vãos espaços desocupados! Romperam-se os diques das almas e a enxurrada de dúvidas inconfessas derrubou as ilusões que preenchiam as ruas tortuosas do devir. Muito embora nada disso seja novidade, não são as mesmas almas que se desgarram. E um olhar inusitado paira diante do espelho. Não há luto, não há dor.. apenas esse espaço vazio a se expandir pelas ruas, pelas almas - e ainda resta o deserto da noite para atravessar. Nenhuma culpa. Simplesmente já não há nada mais em que acreditar. Ou mesmo nunca houvera. O ácido que as entranhas corrói, outrora fora qual mel a perfumar os aposentos dos castelos de areia que se construíra. E agora, nos corredores desse castelo, ouve-se apenas os sussuros das desmedidas quimeras a rolar pelo chão indo de encontro ao mar.