quarta-feira, 27 de abril de 2011

A flor de Schopenhauer


"A flor respondeu - Bobo! Acha que abro minhas pétalas para que vejam? Não faço isso para os outros, é para mim mesma, porque gosto. Minha alegria consiste em ser e desabrochar."
(Schopenhauer - Parerga e paralipomena)

Já parou pra pensar?

Vc já parou pra pensar??? Pensar simplesmente. Não sobre as coisas triviais que nos acontecem dia-a-dia, mas porque elas acontecem??? Vc já se perguntou? Pq vivemos? sofremos? gozamos? sentimos? respiramos? Existe algum propósito na vida? Acho que é ilusão achar que chegaremos a quaisquer respostas. Contudo, perguntá-las é fundamental. Creio que aqueles que não o fazem, se omitem de si mesmos, pois é perguntando que podemos dar algum sentido a isso tudo. 

Parece paradoxal, afinal se não se tem respostas, como podemos encontrar um sentido? Eu acredito que ao nos colocarmos diante dessas questões, percebemos a nossa miudeza e insignificância no mundo, e isso, acho eu, nos torna pessoas melhores, pelo menos com mais compaixão por aqueles que, como nós, não sabem as respostas. Admito que eu não tenho paciência pra quem não se pergunta, pra que não pensa e não pára pra refletir, que não  tenta ser uma pessoa melhor pra si, pra sua família, para a humanidade.  

Acho que eu já fui dessas que não pensa, não era um tipo adolescente alienada, isso não! Afinal tive pais hippies, que fumavam maconha e que, mesmo em um nível subliminar, me deram uma formação humanista, ética e honesta. Mas acho que quando somos jovens, mesmo com uma formação moral e cultural sólida, estamos ainda muito presos na construção de uma auto-imagem, quase sempre muito distante daquilo que nos tornaremos na maturidade. 

A maturidade, além das rugas, nos traz algo muito bom, que é a capacidade de prever nossos próprios erros. E quando não é possível prever, buscar corrigi-los. Na maturidade continuamos sem saber o que queremos, mas já podemos reconhecer aquilo que NÃO queremos.

Ser plenamente feliz só é possível para os plenamente inconscientes ou os plenamente iluminados. A maioria de nós vive no meio desses dois extremos, ou seja, temos que aprender com o sofrimento e tentar nos perguntar, sempre, continuamente, porquê?

Já parou pra pensar? 

segunda-feira, 25 de abril de 2011

Nunca mais volte àquele quarto de hotel


Ela tinha acabado de sair do funeral de seu pai. E pensava consigo mesma: preciso de uma anestesia geral, ou não conseguirei ultrapassar essa semana. A dor era tão intensa, que por vários segundos ela sequer ousava respirar. Lembrou da festa em que estivera há um mês atrás, tão feliz e inocente, quando nem sonhava que seu pai teria um câncer devastador que o levaria em três míseras semanas. A morte o alcançaria sem aviso-prévio, sem chances para qualquer compreensão ou expiação de culpa: tinha sido tudo puramente dor e sofrimento. 

Nada do que ela viveu até ali a tinha preparado para aquele momento, aquele exato momento em que ela atravessava os pavilhões do cemitério em direção ao próprio carro. Até o sepultamento, ela tinha um objetivo, tarefas a cumprir, obrigações sociais, pêsames a receber. Mas agora! "E agora?" Era só o que ela conseguia se perguntar. 


Então, vieram-lhe flashs de si mesma, sorrindo e flertando com um cara meio hippie, meio intelectual, totalmente anacrônico que encontrara na festa. Lembrou que ele a  tinha convidado para fumar uma massa "O Oswaldo saca? o dono da casa? tem umas coisas de qualidade..." disse, levantando as sobrancelhas, sugestivo. Ela se sentiu tentada, mas não tinha fumado até os seus 29 anos, não seria agora que iria começar... recusou e saiu dançando pela festa.

Pegou o celular e sem pensar digitou o número:

- Oi Oswaldo, como vai?
- Tati??? é vc??? soube de seu pai, gostaria de ter ido ao enterro,.... mas... como que cê tá?
- Na merda, óbvio... não liguei pra falar disso, preciso de uma coisa boa, saca?
- Você tá falando do quê???
Parada na porta do carro no estacionamento do cemitério, mal se importando com quem poderia ouvir ou não, à beira da histeria ela disse, aos berros:
- De drogas, caralho!!!!!
- Porra Tati, que merda é essa? tá me achando com cara de traficante???

Constrangida e meio sem saber como se desculpar, ela desligou o celular e entrou no carro, encostou a cabeça no volante e tentou não pensar, não respirar, não sentir. Mas sentia, sentia tudo. O celular tocou naquele ritmo irritante que eles possuem quando tocam nas horas mais miseráveis de sua vida. Pensou em não atender. Mas era o Oswaldo, ela tinha que se desculpar. Atendeu.

- Ohh Oswaldinho, des...desculpa - quase soluçando
- Tati, olha vai nesse hotel, vou te mandar um endereço por sms, procura por um cara chamado Betão, Gilberto Rodrigues, avisei a ele que você pode dar uma passada lá agora à tarde, lá tem o que você tá procurando. Ah.. sinto muito por seu pai... não sei se já disse... em todo o caso, tamos aí, falou?
Sem saber o que pensar ou decidir, ela disse - o...o...obri-ga-da.

Olhou ao seu redor, todos já haviam partido. Em algum lugar atrás de si, estavam a vala, o caixão e o corpo inerte de seu pai que seria, em breve, devorado pelos bichos da putrefação. Ela pode sentir novamente aquele cheiro amarelado e acinzentado de formol e doença, nauseante.

Deu partida no carro e saiu sem rumo. Duas horas rodando a cidade... dor incessante. 120 minutos de uma tentativa inútil de não sentir nada. Pegou o celular e leu o último sms recebido.

A porta do quarto 1114 abriu e dentro estava um cara baixinho cabeludo, com cara de gente boa, disse apenas: - Entre - e sorriu, um sorriso gentil até. Indicou uma poltrona super confortável, ela desabou.

- Seja bem vinda, o Oswaldinho é meu truta, ele disse que você viria. Ele só esqueceu de me dizer que eu deveria ter feito a barba, olha pra mim... - disse ele passando a mão pela barba mal feita - recebendo em meu hotel uma mulher linda como você, com essa cara de lixo... 

Ela pensou em falar do pai, fazê-lo se sentir mal por estar lhe passando uma cantada em hora tão amarga. Mas sentiu a dor latejar novamente e respondeu, tentando um quase sorriso:

-Obrigada pelo linda, mas eu não vim aqui pelos elogios ... - tentando parecer agradável, afinal ela também deveria estar com a cara na merda.
- Então... a senhorita deseja... -  e esperou que ela terminasse a sentença.
- O que você tem de mais forte?
Ele olhou desconfiado e perguntou: - tem certeza? Você não me parece habituada...
- Tenho certeza absoluta e posso pagar quanto for..
- Tu já usou U2? 
- A banda??? - balançou a cabeça confusa - ah não importa...é forte?
- Se é forte??? - gargalhou - não existe nada mais forte que isso! Coca e êxtase, buuuuuuummm - e fez um gesto com as mãos simulando uma explosão da cabeça. 
Ela pensou: "deve ser mais suave que um tiro nos miolos".
- Manda!

Amanhecia, quando a terceira dose da droga começava a passar o efeito. Ela se viu nua sob os lençóis de cetim negro que pareciam ter se fundido à sua pele. Betão, magro, pálido, franzino, de pau minúsculo, jazia ao seu lado, inerte. E ela começou a entrar em parafuso, começou a conjecturar se não estaria com alguma maldição, todas as pessoas em que tocava morriam. "Meus deus", pensou confusa, esfregando os olhos, tentando decidir o que fazer... quando Betão se virou de bruços e soltou um ronco profundo cheirando a whisky.

Alívio. E então, desespero. 


"Que porra eu tô fazendo aqui?". levantou e começou a vestir, desajeitadamente, as roupas que estavam espalhadas pelo chão. E decidiu que iria sair de fininho. Ao abrir a porta do quarto, Betão gritou : - é mil reais, moça!
- Mil reais?!?
Sentando na cama, com cara de sono, mas sorrindo, ele disse: - sim, senhora, cada dose é 250 e você tomou 4.
-Só lembro de três... enfim... você aceita cheque???
- Aceito não dona, mas como você é truta do Oswaldinho faço uma exceção...

Após preencher o cheque, ela o entregou a ele. 
- Obrigado dona, a trepada foi cortesia da casa - e novamente lhe dirigiu aquele sorriso gentil.

No elevador, ela pensava consigo mesma: "mas que merda Tatiana, você se drogou, trepou com um cara desconhecido, ainda por cima traficante... porraaaaaaaaa sem camisinha, caralho!!! O que você está querendo? se matar? Nunca mais volte àquele quarto de hotel, nunca mais, nuncaaaaaa..."

O elevador chegou ao saguão, tudo tão vasto e vazio àquela hora da manhã, então ela sentiu uma pontada: seu pai estava debaixo da terra, inalcançável, inatingível... olhou por uns segundos os botões do elevador, fechou os olhos e apertou o número 11. Toc-toc. Um Betão, com cara de quem não está entendendo nada, abriu a porta. Sem esperar convite, entrou. Evitando olhar pra ele, disse: - meu pai morreu! 
   


sábado, 23 de abril de 2011

sexta-feira, 22 de abril de 2011

A gente não sabe...

"Eu queria decifrar as coisas que são importantes. (...) 
Queria entender do medo e da coragem, 
e da gã que empurra a gente 
para fazer tantos atos, dar corpo ao suceder. 
O que induz a gente para más ações estranhas
 é que a gente está pertinho do que é nosso, 
por direito, e não sabe, não sabe, não sabe!"

(Riobaldo - Guimarães Rosa)

domingo, 17 de abril de 2011

A dor e a delícia de ser o que é!


Em inglês, existe uma palavra que significa grato, contudo GRATEFUL, seria melhor traduzido por "profundamente grato", ou melhor ainda "cheio de graça". É exatamente como estou me sentindo hoje, abençoada, eleita, totalmente preenchida pela graça divina... a graça de ser quem sou, de viver o que eu vivo, e porque vivo... E por isso eu sou grata. Queria poder olhar nos olhos de cada pessoa que passou pela minha vida até aqui, e dizer obrigada... obrigada a meus pais, a minha família, a meus amigos, a meus ex-namorados, a meus mestres e até mesmo aos meus poucos desafetos. Nessa parte da minha travessia pela vida, enquanto tento descobrir quem eu sou e o que eu tenho a oferecer a todos vocês, vejo que cada um me deu um pouco dessa parcela de paz que me inunda de tranquilidade. E por isso sou grata. E aqueles que ainda virão me encontrar nesse caminho, sejam bem vindos, aqui está alguém que busca aceitar, todos os dias, a dor e a delícia de ser o que sou. 

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Traveling 2



Essa semana mal deu tempo de pensar em nada, e mais uma semana de trabalho e contagem regressiva se aproxima. Mas se eu pudesse, o que eu faria nessa semana santa, seria visitar uma das cidades mais fascinantes no meu imaginário: Praga. Apesar desse nome de pouco augúrio, Praga é uma das cidades mais lindas e misteriosas das quais já ouvi falar... Não bastasse o fato de ser a cidade em que Kafka nasceu, é também a cidade de um ex-aluno meu, com quem mantive uma relação de amizade muito legal. Creio que há um equívoco em se falar da frieza do povo do leste europeu. Quando morei em Portugal, eu via cotidianamente alguns mendigos loiros, e isso me intrigava, afinal na nossa cultura, isso seria muito estranho. E aqueles homens loiros de olhos azuis, passando fome... me disseram, vieram do leste europeu. Meu coração ficou condoído, muito embora eu não queria achar que isso se deu porque eles eram loiros de olhos azuis... tão bonitos... sujos e famintos. 
Então aqui vou eu ...Destino: PRAGA


Praga (em checoPraha) é a capital e a maior cidade da República Checa, situada na margem do Vltava. Conhecida como "cidade das cem cúpulas", Praga é um dos mais belos e antigos centros urbanos da Europa, famosa pelo extenso patrimônio arquitetônico e rica vida cultural. Importante também como núcleo de transportes e comunicações, é o principal centro econômico e industrial da República Checa. Situada na Boêmia central, a cidade de Praga localiza-se sobre colinas, em ambas as margens do rio Vltava, pouco antes de sua confluência com o rio Elba. O curso sinuoso do rio através da cidade, cheia de belas e antigas pontes, contrasta com a presença imponente do grande Castelo de Praga em Hradcany, que domina a capital na margem esquerda (oriental) do Vltava.

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Veredas-travessia



"Viver é muito perigoso"Sobretudo quando estamos tão longe de uma compreensão qualquer que seja. "Se o tolo admite, seja nem que um instante, que é nele mesmo que está o que não o deixa entender, já começou a melhorar em argúcia." Essa citação de Guimarães Rosa, pelo menos, me consola. Afinal, já cheguei a entender, que hoje, só sei que nada sei (Sócrates).  

"Viver é muito perigoso". Vivemos uma ilusão de controle, mas devemos nos perguntar: quanto de nossas vidas está de fato sob o jugo de nossas escolhas??? O livre arbítrio há??? Enfim, volto à Rosa, num impulso de entendimento: "Nonada. O diabo não há! É o que eu digo, se for... Existe é homem humano. Travessia."







quarta-feira, 13 de abril de 2011

Oculta

Às vezes me engano, dizendo que nesse blog eu sou mais eu do que de fato sou na vida que respiro. Na verdade, acho que no blog, como na vida, a gente mais cala do que fala sobre o que vai por dentro, bem dentro de cada um de nós. Tem certas coisas que acontecem comigo ou certos sentimentos que geram um tipo de desassossego, sobre os quais eu jamais consegui falar, nem mesmo aqui nesse espaço vazio na tela que ninguém lê... só eu sei de mim... só eu sei das profundezas dos meus olhos e das lágrimas que me escorrem por dentro. Mas deixemos a dor estar, pois como disse G. Rosa "tudo quanto há, neste mundo, é porque se merece e carece."

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Amar o próximo como a ti mesmo...

Queria falar de coisas importantes, falar do quanto estou chocada com o  massacre na escola do Rio de Janeiro, afinal isso nos afeta, como sociedade, de uma maneira tão profunda que só iremos nos dar conta no futuro, talvez não tão distante quanto esperamos. Afinal, o que leva um ser humano a matar outro, ou pior ainda, outros??? Claro que existem casos patológicos, que muitas vezes estão muito além da nossa compreensão. Como parece ser o caso do rapaz que cometeu esse ato tão desumano. Terrível seria se fosse com adultos, mas com crianças, isso é...  mais do que brutal... não tenho uma palavra forte o suficiente para exprimir o horror que isso me causa... E não há porquês suficientes para um coisa tão sem razão, tão sem sentido... Ferir outro ser humano..por que? Creio que a humanidade chegou a um ponto em que, ou aprendemos a amar uns aos outros, a ter compaixão pelo outro ou vamos tornar as nossas vidas um inferno. Para alguns esse inferno até já chegou. Penso nas mães que perderam seus filhos, nos pais, nos irmão, tios, tias, avós... enfim, aqueles que tiveram uma criança em seus braços, sorrindo e brincando, e agora têm que empunhar as alças de seus caixões, como disse, não há porquês suficientes... sei apenas que se a minha dor é pungente, eu jamais poderia estar no lugar de uma dessas mães. Embora, eu não acredite em religiões, não posso deixar de me lembrar todos os dias, o toque bacana que Jesus nos deu: ama o próximo como a ti mesmo!

terça-feira, 5 de abril de 2011

À uma nota do lesbianismo.

Praticando o violão agorinha, me descobri fazendo uma sessão de análise comigo mesma, aliás isso é o que mais tenho feito ultimamente.  Fiquei viajando nos sons de cada uma das notas, enquanto praticava meu exercício para mão direita. E me descobri me deliciando com a vibração de uma notinha em particular… Bom, eu vejo o violão assim, seis cordas, em que metade delas é fêmea – agudas e a outra metade é macho – graves.  A mais aguda de todas, a primeira corda, é um tipo de fêmea alfa em opisção à mais grave, a sexta corda, – o macho alfa. Se fossem pessoas, eu diria que o macho alfa é aquele que pega todas, estraçalha o coração das gatinhas, um baladeiro de vozeirão. A fêmea alfa, assim como a nota, é mais fraquinha, mais doce, mais gentil, se fosse uma pessoa eu diría que era um protótipo de Amélia e todas as suas implicações na atualidade. As notas do meio de cada lado, a segunda e a quinta cordas, seriam, se fossem pessoas, aquele tipo irmão do meio, embora não chamem a atenção sobre si, possuem uma profundidade e uma resiliência que quem não os conhece não pode adivinhar; imagino que se fossem pessoas, seriam do tipo intelectuais centrados. Por fim, chegamos às notas do meio, a menos grave das agudas, e a menos aguda das mais graves. Extremos e opostos que se aproximam. A nota fêmea, a terceira dentre as agudas, se fosse uma mulher, seria uma pessoa forte, de personalidade, que não tivesse receio de ser grave, mesmo sendo aguda. Já a nota macho, a menos grave de todas, seria um homem sereno, feminino, generoso, e embora masculino, mais frágil e sensível. É justamente essa nota, essa maravilhosa notinha que me encanta, que me delicia quando com meus dedos a faço vibrar. E então, percebi que é mesmo assim na vida, os homens que amei são todos RE, a quarta corda, e os amei porque quando meus dedos os tocavam era um som agradável de se fazer vibrar. Pensando sobre mim, gosto de imaginar que seria a terceira corda, um SOL, mulher, mas grave. Mas o fato é, que nunca me interessei por homem nenhum que não fosse RE, e é justamente pela minha atração pela quarta corda que digo: estive à uma nota do lesbianismo. 

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Traveling

Hoje decidi que uma vez por semana eu vou estudar sobre algum lugar no mundo que eu deseje visitar. Sempre gostei de viajar, da idéia de conhecer outras paisagens, outras culturas, enfim, me maravilhar com as diferenças e diversidades desse mundo louco. Por isso, hoje inicio a minha rota de viagem,  pois se um dia não for a esses lugares, já terei ido em pensamento.... 

Começo a minha jornada por Timbuktu


Mas porque começar por essa cidade estranha e tão desconhecida e não, por exemplo, por Paris? Bem, a primeira vez que ouvi falar de Timbuktu foi num documentário da National Geographic Channel que tratava das conquistas de Gêngis Khan, e uma delas foi a cidade de Timbuktu, que ficava às margens do Rio Niger, na África (para quem não sabe onde fica o rio Niger). Enfim, não sei porque sempre me interessei por Gêngis Khan, é um personagem histórico que me intriga. E acabei descobrindo a destruição que ele promoveu em Timbuktu, inclusive deixando para trás a destruição de uma das mais importantes bibliotecas da época, cujas ruínas, ainda hoje podem ser visitadas. Óbvio que aí está a minha motivação para querer conhecer justo essa cidade fora das rotas. Mas tem mais uma motivação, menos importante talvez: o primeiro conto que eu escrevi tem uma história de um cego que perambula pelas ruínas no deserto de Timbuktu... tenho curiosidade de saber se aquilo que eu imaginei está por lá...  E quando penso em Timbuktu, posso sentir o cheiro, a textura das pedras, a areia volátil que paira no ar... Enfim, não sei porque mas ela já está dentro de mim!!!


*Timbuktu foi fundada por volta de 1100 na proximidade com o Rio Níger, com o propósito de servir as caravanas que traziam sal das minas do deserto do Saara para trocar por ouro e escravos, trazidos do sul por aquele rio. Em 1330, Timbuktu era parte do Império do Mali, que controlava o negócio do sal por ouro em toda a região, estando ligada a Yenné através do comércio do sal, cereais e ouro, e a sua função comercial é acompanhada de uma função militar. Dois séculos mais tarde, Timbuktu atingiu o seu auge, governada pelo Império Songhay, tornando-se uma importante cidade universitária e a capital religiosa dos finais da dinastia Mandingo Askia (1493-1591). Timbuktu, que foi habitada por muçulmanos, cristãos e judeus durante centenas de anos, foi sempre um centro de tolerância religiosa e racial. As culturas locais - songhai, tuaregue, árabe e moura – misturaram-se, mas conservaram as suas distintas tradições. O seu apogeu chegou ao fim no século XVI, quando o exército marroquino destruiu o Império Songhay. O domínio do comércio com África pelos navegadores europeus foi mais uma razão para o declínio de Timbuktu.

domingo, 3 de abril de 2011

O que sei e o que desconheço

Hoje eu estava vendo um filme, do mesmo diretor de Princesas - Fernando León. O título do filme é Amador. Muito bom, por sinal. Mas não quero falar do filme não, quero falar sobre uma frase do personagem título, que me despertou interesse sobremaneira. Ele disse mais ou menos assim "A vida é como um quebra-cabeças, ao nascer nos dão todas as peças, e encaixá-las no devido lugar é a nossa missão." Deixando de lado o aspecto metafísico ou mesmo metanóico, essa frase me fez pensar sobre aquilo que sabemos e aquilo que desconhecemos. A mim sempre me pareceu que o nosso aprendizado das coisas era a aquisição de um conhecimento externo, sobre algo que estava fora de nós. Contudo, hoje fico me perguntando se de fato nós já não sabemos tudo o que precisamos saber? Me questiono se o que importa não seria fazer as escolhas certas, buscar as informações relevantes, para que possamos relembrar aquilo que já sabíamos e julgávamos desconhecer? Vejam os meus alunos, por exemplo: quando eu faço uma pergunta que lhes obriga a pensar sozinhos e deduzir uma resposta, em geral um, dois ou três chegam ao lugar esperado, o restante - mudo e alheio - não me fornece qualquer pista de compreensão. Seriam então uns indivíduos mais capazes que outros, uns mais inteligentes que outros? Bom, eu não creio nisso, eu acho que temos basicamente as mesmas capacidades cognitivas. Então o que nos difere uns dos outros??? Eu acredito que seja a informação. Para raciocinar, é preciso saber fazer deduções e estabelecer relações, e para isso precisamos ter informações que nos permitam relacionar e deduzir. Assim, me parece que aqueles que possuem mais informação podem chegar mais rapidamente a deduções e relações próximas daquilo que se espera, uma aproximação do que seja real ou verdadeiro. Então, chegamos à seguinte questão, como sermos suficientemente informados para compreender coisas tão subjetivas quanto  a vida, o amor, a morte, o medo,  a fé, Deus???? Enfim, todas as coisas que motivam a nossa existência??? Pensando nas questões científicas e sociais creio que essas informações podem ser adquiridas de duas formas: ou de uma vivência intensa ou de  leituras constantes. Não creio que possamos viver intensamente todas as coisas que precisamos entender, caso assim fosse, para compreender a morte, todos teríamos que cometer suicídio.  Infelizmente a conclusão a que chego é que quem lê menos, pensa menos. E pensar menos é um merda!!!! Quem passa a vida sem pensar, pode até ser mais feliz, mas nunca será aquilo que deveria ter sido. Bom, isso é o que eu acho.