Acordei, nessa manhã, sentindo um gosto estranho na boca e, como sempre faço, fechei os olhos e comecei a analisar aquele sabor. Tenho a singular mania de dar nome aos bois, mesmo que os bois sejam impalpáveis sentimentos, voláteis odores, sensações táteis ou apenas simples idéias, no final das contas, tudo precisa ser definido e categorizado dentro dos meus paradigmas avaliativos, com a máxima precisão. Não me levantei tão logo abri os olhos, fiquei paladeando o estranho gosto, buscando aquela inefável definição, até que, passados alguns bons minutos, falei pra mim mesma, num sorriso: “reminiscências”. Sim, certamente, reminiscência era a interpretação do sabor que sentia entre a língua e o céu da boca.
Depois desse vitorioso achado, senti-me invadida, momentaneamente, por um sentimento de satisfação, que fugazmente brilhou em meus olhos. Chegara, enfim, à descrição efetiva, solicitada por minha obsessiva idiossincrasia catalogadora de sentidos e intenções.
Como é de costume, a simples identificação do fato não é suficiente para aplacar-me a ânsia de taxionomista. Olhei para mim mesma no espelho oval da penteadeira e as reminiscências de toda a minha vida, até agora vivida, passaram diante dos meus olhos, vi que aquilo que considerava inato, minha protetora indiferença, meu distanciamento do mundo, não passa de construções: um processo contínuo e incessante de acúmulo de experiências, frustrações de expectativas, rejeição de alguns fundamentos de mim e aquisição de trejeitos e personas enaltecidas pessoal ou culturalmente.
Então, reconheci-me naquela imagem que se refletia pálida na placa de bronze e vi o rosto de mármore ser desvelado, duro e frio, confusamente eu. E disse: “sim sou EU, sou também”.
Depois desse vitorioso achado, senti-me invadida, momentaneamente, por um sentimento de satisfação, que fugazmente brilhou em meus olhos. Chegara, enfim, à descrição efetiva, solicitada por minha obsessiva idiossincrasia catalogadora de sentidos e intenções.
Como é de costume, a simples identificação do fato não é suficiente para aplacar-me a ânsia de taxionomista. Olhei para mim mesma no espelho oval da penteadeira e as reminiscências de toda a minha vida, até agora vivida, passaram diante dos meus olhos, vi que aquilo que considerava inato, minha protetora indiferença, meu distanciamento do mundo, não passa de construções: um processo contínuo e incessante de acúmulo de experiências, frustrações de expectativas, rejeição de alguns fundamentos de mim e aquisição de trejeitos e personas enaltecidas pessoal ou culturalmente.
Então, reconheci-me naquela imagem que se refletia pálida na placa de bronze e vi o rosto de mármore ser desvelado, duro e frio, confusamente eu. E disse: “sim sou EU, sou também”.