Enveredava os meu passos por caminhos tortuosos, tão tortuosos quanto a minha alma, e, nesse caminhar, me dignava apenas a olhar tudo à minha volta, a paisagem na janela engradeada, a alterar-se à medida que, lentamente, me conduziam os meus passos autômatos. Sintia-me pobre. Sentia-me vazia. A felicidade me parecia distante, apenas a lembrança de um suave toque sobre a minha pele. Afastei-me de mim como se repele um verme repugnante. Já não era eu. Apenas estava à deriva. Bradei aos céus, e as pedras, imóveis, suspiraram.É passado, contudo. As dores, súplicas, injúrias, cicatrizes e flores retorcidas já não me tocam mais. E é bom saber, e crer que passado não volta jamais.Encontrei a melhor metáfora de mim e sigo construindo imagens para a alma tortuaosa que não se cala, mas que sempre quer chegar, de novo e sempre. Chegou, cheguei. Não há nada que me prenda ao passado. E, contudo, não é futuro que me consola, é o presente que me foi doado, pelo destino que as estrelas cadentes rabiscaram no céu. E diante de tal tesouro, meu bem precioso, tão incompreensível e grandioso, em prece, agradeço, extasiada. Não solto nem um suspiro, uma respiração ofegante. Pois tenho a felicidade e não pretendo perdê-la, logo agora, que tão tardiamente nasceu.
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