Era uma vez, um menino.
Se via logo que era esperto e inteligente, pois apesar de jovem, já sabia muita coisa, mas muita mesmo, sobre as coisas que são importantes saber.
Mas havia um problema: ele não se lembrava de quase nada do que sabia. Tinha essa mania de esquecer e, pior, mania de fingir que não era importante lembrar.
E uma das coisas que ele esqueceu – a mais importante de todas – é que ele, justo ele, era o senhor do tempo. E por não saber, ou melhor, por não se lembrar, ele vivia às turras com o passado, o presente e o futuro. E, em vez de ele mandar no tempo, era o tempo quem nele mandava.
Ao passar dos anos, ele fez do relógio o seu mais importante amuleto. Não conseguia ficar sequer uma hora sem olhar o dito cujo. Só se desligava das horas quando dormia, e nem assim, em sonhos atemporais, o menino se permitia se libertar do círculo rítmico dos ponteiros em seu pulso.
E se passaram muitos outonos e primaveras, e verões e invernos, e o menino a se perder por entre as horas, tentando – bravamente - corresponder às exigências do tempo.
Até que um dia, ele conheceu uma bruxa meio fada, uma mulher meio menina, uma anjo meio demônio, que lhe disse: “você é o menino do tempo”. Ele não entendeu o que ela queria lhe dizer, porque não se lembrava do que era. Mas ela não desistiu e deu a ele um pouquinho de sua poção mágica que tinha o poder de paralizar o tempo.
Que susto o menino levou. Se sentia perdido sem o controle que o tempo exercia sobre ele. Estava tão acostumado àquela vida escrava dos minutos, que a liberdade em vez de lhe trazer paz, lhe trouxe medo.
Então a bruxa perguntou: - de que você tem medo, menino do tempo?
Ao que ele lhe respondeu, com aquele jeito inquieto e incomodado, de quem não tinha, nem queria ter tempo para pensar, muito menos falar sobre essas coisas: - eu tenho medo de que o tempo acabe, de que não exista mais tempo…
- E porque você deseja que haja mais tempo? – indagou, com olhos curiosos a fada.
- Para ser feliz oras… - exclamou como se fosse óbvio.
- E quando você vai ser feliz? No futuro?
- Sim, no futuro. Quando eu alcançar tudo o que eu eu desejo. Dinheiro, poder, respeito, admiração, amor…
- E se eu te disser que você já pode ter tudo o que você deseja? Só basta que você faça um único sacrifício? O que você me diria?
Ele nem pensou duas vezes antes de responder, falou com a voz firme: - faço qualquer negócio!!!
Então ela lhe disse:
- A única coisa que você tem de fazer é quebrar o seu relógio e desfazer o tempo. Você o criou, só você poderá destruí-lo. O tempo tem te consumido. E na verdade, ele só existe por que VOCÊ acredita nele.
Ele olhava para o relógio, como se ponderasse quebrá-lo. Porém, balançou a cabeça, e com um olhar muito pouco convencido do que ela lhe disse, o menino se apoderou do relógio totalmente intacto e sumiu – sem olhar pra trás.
Essa história termina assim: não se sabe o que irá prevalecer, se o tempo ou se o menino.
Mas a bruxa menina anjo fada mulher demônio sabe qua ainda há muita coisa para acontecer no tempo desse menino e torce, ardorosamente, para que ele se torne aquilo que precisa ser: o menino do tempo.