Anda muito difícil escrever, por isso, venho me desculpar, se tenho apego às palavras alheias que por vezes são aqui pronunciadas, para dizer o que a incapacidade humana supunha poder criar, sem jamais consegui-lo. E, embora esteja mesmo muito difícil, escrevo para amansar meus fantasmas, expurgar os meus demônios, destilar o meu veneno e despir a minha pele. E, o que mais dolore, nesta hora, é o não poder escrever dignamente a minha dor. A maior tortura daquele que escreve é jamais poder alcançar a beleza suprema de uma lágrima que escorre na face dos piedosos. E, então, suplicante, rogo aos deuses que me torne piedosa, para quem sabe poder descobrir o mistério dessa lágrima, e, decisivamente, através das palavras, fazê-la escorrer sucessiva e infinitamente. É penoso escrever agora. Na verdade, sempre o é. Contudo, insisto, pois, ao escrever, é quando mais vivo. Na escrita tudo é permitido, o impossível não existe. Quando se escreve as palavras mais tristes de uma língua: "poderia ter sido", mente-se. Tudo pode SER. E sendo, será continuamente. E se, nessa-vida-aquém-e-além-das-palavras, muito pouco nos é permitido, para aquele que escreve, o metafórico, o metafísico e o sobrenatural se fazem amantes perpétuos. E se o que escrevo carece de dignidade, não culpem as palavras, puna a quem as ousa violentar. E ainda que me punam, contunuarei a ousar fazê-lo. Desistir seria simplesmente fatal, fatal, fatal...
Um comentário:
Menina,
fatal é o que voce escreve, que me corta como seus olhos em cada foto que vejo...
seu fã Sandoval
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