sábado, 22 de setembro de 2007

Tão dentro de mim


No dia em que eu te senti dentro de mim, fez-se minha a tua dor e, desde então, fez-se noite em mim. A tua dor me aprisiona, se desprende de nós e me devora. Anseio o esquecimento das horas más que tens vivido. Quando ouço os teus soluços calados, a ansiedade me rói a alma. Nos suspiros cadentes da tua sinfonia, sustento o olhar que infindamente repousa em ti. Dói-me a tua dor. Suspenso no ar, paira o silêncio que arde, que ecoa retumbante a dizer-nos do medo. Vejo os teus olhos ainda, pressinto o gosto amargo na boca. Vagueia ainda em mim, a trava que tu sentes a sufocar-te o peito. E ainda que eu fuja para um mundo de sonhos, onde as tuas quimeras se desfazem, ao entardecer, saberei sentir ainda o sabor da tua lágrima. Queria inventar-te um amanhã povoado de estrelas, fazer-te sentir a liberdade de ser o que tu quiseres, retirar de ti esta ânsia que nada acalma. Quem me dera pudesse eu ter asas que a ti pudesse doar, fazer-te deixar de ser chão, sem receios para voar. Contudo, não me atrevo a inventar o sonho, me sinto ínfima, pequena. Conheço os teus pecados, pois eles também são meus. Pronuncio as tuas blasfêmias, elas também vêm de mim. Pois é mesmo assim, desde aquele dia, tu andas tão dentro de mim.

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