sexta-feira, 10 de agosto de 2007

Sobre-humano


De onde vem essa sensação que me invade por noites infindas, que faz vibrar as pontas dos dedos, que treme a carne, que me queima a pele, e que mil vezes me liberta? Há algo de metafísico nessa sensação, o corpo já não é matéria e o espírito sobrevooa por espaços alienados, e se recusa terminantemente a voltar. Uma espécie de transe me consome em fogueiras imaginárias. Portas e janelas se abrem e eu não consigo me mover, o desejo de evadir não chega ao meu corpo, enquanto minha alma vagueia errante, ouvindo sons longinquos, sussurros quase inaudíveis, suspiros distantes. Permaneço acorrentada a essa sensação. E mesmo presa a esses grilhões, I flow, I fly away... Incontáveis, inenarráveis momentos em que nem sou corpo, nem sou espírito. De onde vem essa sensação: um nada, um nirvana, um prana, um inominável prazer? Terremotos não me fazem temer, o chão que treme sob meu corpo se liquefaz, e me derreto, me dissolvo, e me escorro junto com o ar que exalo inconstantemente. E vem a gratidão, uma imensa gratidão, por essa sensação que me concede, me deseperta, o desejo impetuoso de romper o silêncio da alma, de todas as almas, de viver, e fazer viver, todas infindas possibilidades oferecidas pela escuridão. Estou dentro dela, de olhos fechados, um grito rouco de mim ecoa. E não quero despertar. Não ainda, só mais um pouco, deixa estar ainda uma vez mais, e outra, e sempre, até que, como diz o corvo, o passado nunca mais, o passado nunca mais.

3 comentários:

Pat Vieira disse...

Lindos textos...
Queria saber escrever coisas lindas assim...
Ah, estou adorando o blog do papi!!!

Juliana disse...

Meu pai ficou todo feliz com seu comentário. Estamos todos fazendo blogterapia... risos, despejando o que transborda...
te amoooooooooooo

Pat Vieira disse...

Um prazer para mim, um deleite...